terça-feira, 5 de abril de 2016

Sobre meus sonhos perturbadores

Estou faz uma semana tomando os medicamento, tudo certo, sem falhar. O que eu tenho percebido é que os pensamentos ruins que me atormentam têm diminuído, porém tenho percebido que tenho tido sonhos e lembrado deles.

Esses sonhos são perturbadores, geralmente me colocam numa posição de inferioridade, de julgamento, isolamento. Tudo muito sofrido.

Não sei se eles tendem a diminuir, conforme a medicação vá se ajeitando em meu organismo. De qualquer forma, acredito que é importante registrar isso, principalmente porque outras pessoas podem passar pela mesma coisa.

Meus sonhos sempre tiveram um caráter perturbador, me lembro de relatá-los à pessoas próximas, a procurar seus significados na internet. Hoje possuo uma percepção diferente. Acredito que é uma forma como esses pensamento surgem e vão embora. É o portal pra eles aparecerem na minha vida.

Se essa suposição fizer sentido, então, eles tendem a ir embora por enquanto.

E isso não me deixa tranquila, me deixa alerta.

Esse exercício de prestar atenção ao que acontece comigo tem ajudado a compreender mais quem eu sou e como a bipolaridade funciona comigo.

sábado, 2 de abril de 2016

Ai gente, eu sou meio bipolar... E isso não é tão engraçado assim


Receber um diagnóstico desses não é fácil. O primeiro pensamento é que você agora é oficialmente "louca". E o segundo pensamento é extremamente reconfortante: todas aquelas vezes em que eu perdi o controle, quando gritei com alguém, quando não conseguia parar de chorar, quando me afastava de todo mundo, quando magoava pessoas que eu amava, quando tudo isso acontecia não era eu realmente.

Muita gente adora a piada do "ai, eu sou muito bipolar, tem dia que estou muito irritada!" e eu entendo a analogia, entendo que às vezes as pessoas têm oscilação de humor e que isso atrapalha o cotidiano, que pode ser engraçado ou ridículo. O que eu gostaria que ficasse bem nítido é que a bipolaridade faz sofrer tanto que algumas pessoas não aguentam.

O transtorno bipolar ou transtorno do humor é uma doença e existe tratamento. Existem 4 tipos de TAB e eu tenho o tipo 2 ou 3, segundo meu médico, que são tipos mistos, mais leves. Mesmo sendo um tipo mais "leve", eu sofri muito e as pessoas ao meu redor também.

Hoje, aos 24 anos, finalmente fui devidamente informada sobre o que acontece comigo e isso me tornou forte, porque agora eu posso estudar sobre isso, posso distinguir o que é meu, da minha personalidade, e o que é da bipolaridade, o que é da doença e me invade. Isso leva tempo e estou disposta a tentar.

Gostaria de poder conversar com todas as pessoas que conviveram comigo em toda a minha vida e me desculpar sinceramente, explicar que eu estou fazendo tratamento e que não pretendo mais fazer nada de mau a ninguém. Porém isso não é possível, então, minha saída é escrever para que puder ler.

O transtorno afetivo bipolar (TAB) é uma doença como qualquer outra, como a hipertensão, como a diabetes, como o hipotireoidismo. Pouco se sabe sobre as causas, mas o que realmente importa é entender que as pessoas com TAB precisam de tratamento como qualquer outra pessoa doente.

O fato de estar doente, no entanto, não impede que a vida siga. Essa pessoa tem que continuar trabalhando, estudando, participando de projetos, assim como também deve fazer o acompanhamento médico e terapêutico. Então, apesar de tudo, a vida segue, e, dia após dia, nós estaremos lá na batalha contra os sintomas, estudando com afinco quem nós somos e procurando machucar o mínimo de pessoas no caminho.

Quando eu iniciei este blog, a ideia era treinar minha escrita. Depois de iniciar vários projetos e abandoná-los (também por causa da TAB) encontrei o que realmente me faz bem. Porém eu não fazia ideia de que o verdadeiro desafio de 2016 não seria escrever todos os dias, porque isso eu tenho conseguido fazer minimamente, descobri que o meu verdadeiro desafio de 2016 e também do resto da minha vida é enfrentar um quadro de TAB com as ferramentas que eu disponho.

Caso você que lê se interesse em saber mais, há um site com muitas informações: http://www.abrata.org.br/new/

Gostaria de agradecer muito muito a todas as pessoas que me ajudaram de alguma forma. Para as pessoas que me proporcionaram o tratamento, mesmo quando eu o negligenciava porque não entendia o que estava acontecendo, gostaria de dizer que a vida vale a pena por vocês.

Muito obrigada e, desculpe, eventualmente por qualquer coisa.



Poeminha

Este poema pretende não se alongar
No mais, pede desculpas pela intromissão,
Pelo desperdício de tempo em texto reflexivo meramente performático filosófico
Pretende retratar-se das próximas vezes
Que cogitar colocar-se entre o fogo cruzado
Da tua preciosa informação perpetuamente e onipresentemente  recebida,
Que não precisa de pausa coisa nenhuma que isso é para os tolos
Portanto esse poema se cala
diante de todos os discursos proferidos constantemente
Um abraço de letras desculposas desse poeminha.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Clichê na corda bamba

A vida parece um dueto cantado por duas vozes desafinadas
O estudo da teoria é precisado
E também o do sentimento
Arte é apenas técnica?
Vida é apenas técnica?
Ou é preciso sempre de doses de sentimento, devagarinho, sem transbordar?
Quando a noite vai pesando nas pálpebras é mais fácil aceitar a dualidade
No meio do dia é mais fácil aceitar o desespero
Corda bamba é clichê, ansiedade é clichê, sofrimento é clichê
Mas só quem vive pra saber que dói, sendo clichê ou não.

Bloco de notas

Abri, inocente, fenda no crânio que só bloco de notas pra secar as palavras que gotejam. Ora sublime, ora inútil, a solução é sempre guardar para depois.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Mostro monstro

Depois de secar meu rosto
Sigo o ritual mecânico de pintura novamente
Mas o sentimento teima em brotar, molhado
Minha máscara é muito frágil
Não esconde meu monstro de ninguém
Sou um amontoado de papéis amassados que continham boas intenções escritas
Qualquer vento me bagunça
E expõe o que eu tento esconder até de mim: sou ordinária, falha, monstro.

domingo, 20 de março de 2016

O pó nas coisas

E era delicado o jeito como ajeitava as coisas
Vestindo as paredes, criando seus próprios souvenirs de memória
E depois do eterno ajeitar se enfezava com a tarefa
Por isso deixava tudo bem arrumado e repousado
E de tranquilidade as microparticulas iam pousando de leve
Primeiro um pontilhado espaçado
E vai pousando e repousando
Até acumular em cima de tudo como um véu
É velada assim uma ausência
Porque falta o por que de ter que recolher tudo e tirar o pó das coisas
Falta sentir a obrigação, os olhares de reprovação
Para daí então ter que se adequar
Ter que tirar o véu das coisas e das pessoas